Importância da abordagem Multidisciplinar

Escrito por: Ana Carolina Dantas da Silva Queiroz – Fisioterapeuta

Muito se fala acerca da importância do atendimento multidisciplinar na reabilitação, mas será que existe a compreensão do seu real sentido?


A maioria dos pacientes tem uma rotina de terapias em várias áreas, como fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicoterapia, acompanhamento nutricional e médico, entre outros. Entretanto, o simples fato da criança possuir uma equipe composta por excelentes profissionais das mais diversas áreas não garante que uma abordagem multidisciplinar esteja sendo realizada.


Alguns aspectos são importantes para a família no que diz respeito à escolha dos profissionais que vão compor a equipe; e à equipe em questão, no que diz respeito ao quanto cada profissional está disposto a buscar e compartilhar para garantir esse tipo de atendimento.


Sabemos que o paciente deve ser visto em sua integralidade de forma global, ou seja, cada profissional deve ser capaz de avaliá-lo e intervir em seus diversos aspectos. Desta forma não podemos nos ater à olhar apenas questões inerentes à nossa àrea de atuação. Devemos conhecer cada paciente de forma global, para que possamos ajudá-lo a conquistar seu máximo potencial e função. Para isso é necessário que saibamos de cada um, quais são suas potencialidades e dificuldades em cada aspecto de seu desenvolvimento (físico, cognitivo, emocional, de comunicação e participação social).
O desenvolvimento acontece de forma global e sistêmica. Compreender esses aspectos se faz necessário para que a inter relação profissional e o conhecimento básico das áreas complementares à nossa possam garantir ao paciente e sua família uma real intervenção multidisciplinar.


À nós profissionais fica a responsabilidade de buscar saber quais são todos os aspectos associados ao desenvolvimento do paciente e de aprender com os demais profissionais da equipe como podemos trabalhar todos em prol do mesmo objetivo: desenvolvimento e evolução global do paciente.
O paciente não deve ser visto como de um terapeuta A ou B, embora seja por vezes inevitável que alguns tenham maior vínculo e acesso a um determinado profissional, o que pode acontecer por diversos fatores como tempo de atendimento, número e frequência do acompanhamento, por exemplo. Apesar disso é importante que tenhamos a clareza e consciência de que o desenvolvimento global do paciente é responsabilidade de TODA a equipe, desde o profissional que o atende diariamente até aquele que realiza acompanhamento periódico e em menor frequência.


Quanto compreendemos que TUDO que fazemos pode interferir positiva ou negativamente no atendimento de toda a equipe, torna-se automático entender que precisamos trocar informações, buscar aprender com o outro, para que juntos possamos chegar ao melhor plano de atendimento.
Através da visão multidisciplinar conseguimos ter uma panorâmica geral do paciente para então planejarmos condutas mais efetivas.

Precisamos do outro para complementar nosso saber. O saber nunca foi e nunca será absoluto. Precisamos nos unir de forma técnica, empática e humilde para que todos nós possamos desfrutar do sucesso do tratamento. É de nossa total responsabilidade buscar no outro as informações que não temos sobre cada caso.


O modelo funcional é influenciado por múltiplos fatores. A biomecânica, cinesiologia, anatomia, princípios de neuroplasticidade são os mesmos para todos nós da equipe, entretanto a forma de atuar em cada um desses sistemas é diferente embora inter relacionado, ou seja, cada área irá trabalhar de forma específica sobre um aspecto. Esse fato, entretanto não descarta a necessidade de o fisioterapeuta conhecer aspectos da atuação do terapeuta ocupacional e do fonoaudiólogo, por exemplo. Aqui vale salientar a importância do conhecimento e discernimento de cada profissional ao executar seu trabalho de forma a potencializar o trabalho do outro profissional, mas sem agir em áreas que não o competem.


Temos um exemplo fácil para entender essa visão: a criança precisa se comunicar de alguma forma, verbal ou não-verbal. Esse aspecto é especificamente trabalhado pelo profissional da fonoaudiologia, entretanto a abordagem para tal objetivo deve ser de todos os integrantes da equipe. Os demais profissionais dessa equipe podem e devem agregar em seus atendimentos aspectos que colaborem com a conduta da fono, através de pequenas coisas e condutas como, por exemplo, a forma que aborda e conversa com aquele paciente, quais atividades irá propor durante seus atendimentos, quais orientações irá dar à família.


Um outro exemplo é de como a fono deve manusear e posicionar o tronco de um paciente para realizar sua abordagem. A forma que fará somará ou não à manutenção do trabalho realizado pela fisio. Esses são apenas dois exemplos muito simples dos inúmeros que poderíamos elencar aqui.
Mais uma vez, a responsabilidade é de toda a equipe. Precisamos juntos estabelecer metas e formas de alcançá-las, e assim todos conseguiremos garantir o mais importante, que sempre foi e sempre será a evolução do paciente.