Série vínculo: Pais vocês se relacionam com seus filhos?

Essa pode parecer uma pergunta fácil de se responder, e possivelmente a grande maioria deve estar respondendo SIM, de forma intuitiva e segura.
Como já descrito no primeiro texto dessa proposta de reflexão Vínculo é definido como aquilo que ata, liga, vincula (duas ou mais coisas); o que estabelece um relacionamento lógico ou de dependência; que gera relacionamento.
Para que haja relacionamento é necessário conhecimento. Ninguém se relaciona com alguém que não conhece, não é mesmo?
A resposta parece óbvia: CLARO QUE CADA PAI E MÃE CONHECE SEUS FILHOS E SE RELACIONAM COM ELES!


Entretanto, nos deparamos em nossa prática clínica com uma grande dificuldade por parte de algumas famílias. Em alguns casos a deficiência / diagnóstico posiciona-se entre a criança e a família dificultando que essa relação aconteça.
Assim como nós terapeutas, às vezes a família busca incessantemente entender aspectos referentes ao diagnóstico e técnicas de tratamento (o que é muito importante), mas esquecem de olhar além dessa ótica. Esse conhecimento é sim muito importante,mas isolado do real conhecimento sobre a criança e sem o estabelecimento desse vínculo família-criança a efetividade de todo esse processo no qual se investe muito tempo e recursos pode estar limitada.
À nós terapeutas muitas vezes também fica a função de PROMOVER esse vínculo entre a criança e a família, pois por muitas vezes ele está prejudicado ou por vezes jamais aconteceu.
A família como parte essencial do processo terapêutico deve ser ouvida e instruída constantemente, essa é a real prática centrada na família, que devemos buscar sempre. Entretanto, para que essa família nos traga suas demandas, precisa conhecê-las e para que possa ser instruída e participar de forma efetiva do processo terapêutico precisa conhecer a criança em detalhes, além de todo o conhecimento acerca de sua deficiência e condição global. Para que isso aconteça é necessário também que a relação de confiança e relacionamento entre terapeuta e família tenha acontecido, como já trouxemos no texto anterior.
Pais e mães conseguem entender verdadeiramente o processo terapêutico de seus filhos? Conseguem extrair, além da deficiência, aquilo que o filho tem de habilidades para que as atividades propostas em terapias ou na escola, por exemplo, sejam realizadas de maneira efetiva? Entendem sua criança a ponto de conseguirem estabelecer uma conexão efetiva que promoverá segurança para ambos na realização de suas tarefas diárias? Essas são algumas perguntas que podem ser respondidas sob a ótica do CONHECIMENTO. Do saber quem é essa criança; o que gosta e o que não gosta; o que consegue e o que realmente não pode realizar; de que forma pode encontrar maneiras de proporcionar a realização de tarefas antes pensadas como difíceis ou impossíveis; porque a criança se comporta de determinada forma e como agir com ela. Do saber que o que a criança deseja e pode desempenhar em cada fase de seu desenvolvimento e como promover que tal desenvolvimento aconteça.
Para nós terapeutas é necessário muitas vezes “voltar” e olhar para a família para entender cada criança. A família por vezes precisará “retornar” e olhar para a criança, considerar sua condição de forma a trilhar um caminho consciente e realista, mas voltar os olhos para o vínculo e ao “conhecer” realmente seu filho, pois apenas desta maneira conseguirá traçar metas não somente para a criança, mas metas que sejam buscadas e alcançadas por todo o núcleo familiar e terapêutico.
Chamamos isso de conhecer a criança e entender seus processos, para que assim saibam que maneira participar juntos de cada etapa, alcançando cada resultado de forma mais leve e efetiva.
Para isso entendemos que muitas vezes é necessário parar, olhar para todos os aspectos aqui mencionados e buscar ajuda. Cada criança tem uma equipe que deve ser capaz de auxiliar nesse processo e de direcionar a família a outros caminhos que sejam necessários.
Cada família encontra-se em uma fase de seu processo e apresenta uma demanda prática e emocional. Como já dito, cada um traz consigo sua história e aprende de uma forma, obtendo também resultados inerentes à somatória de todos esses fatos.

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