Participação dos irmãos no processo terapêutico

Não existem dúvidas acerca da importância e impacto das relações familiares, principalmente dos irmãos na nossa personalidade e evolução.

Partindo desse pressuposto falaremos um pouco  a respeito do relacionamento entre irmãos e como esse vínculo pode contribuir no processo de reabilitação das crianças com deficiência.

Cerca de 80% das crianças no mundo ocidental tem pelo menos um irmão. Visto que essa relação na maioria das vezes será a mais duradoura na vida de uma pessoa, desempenha papel importante no seu desenvolvimento.

Pesquisas afirmam que as relações entre irmãos oferecem um contexto importante para que a criança se desenvolva em seus aspectos social, emocional, moral e cognitivo.

A sintonia existente pode ser tão natural quanto o respirar. Os atos e ações de “defesa em nome do amor” podem ser naturais ou não. A forma como essa relação acontece reflete o contexto de vivência familiar.

Características que favorecem o desenvolvimento do vínculo

Alguns autores destacam três características que favorecem o desenvolvimento do vínculo. São estes:

  • Alto grau de acesso entre os irmãos;
  • Necessidade de intimidade pessoal significativa;
  • Suficiência parental.

Desta forma destacam que os vínculos serão mais intensos e terão influência à medida que os irmãos são mais próximos. Quanto maior a proximidade maior será o sentimento de empatia e amor fraternal.

É relevante que os irmãos se sintam importantes na vida um do outro. Como seres humanos temos essa necessidade real que contribuição com o outro e de afirmação da nossa relevância.
Todos esses aspectos fazem parte do nosso desenvolvimento biopsicossocial.

Pensando nas pessoas com deficiência como se desenvolve esse vínculo?

Os questionamentos e reflexões são constantes para familiares e profissionais envolvidos nesse processo. Como esses:

  • Qual o papel dessa estreita relação na vida de toda a família?
  • A participação ativa da família contribui no processo de reabilitação e desenvolvimento global da criança com deficiência?

Geralmente na rotina exaustiva e repleta de atividades que envolvem a vida da família de crianças com deficiência os irmãos podem ser “deixados de fora”, não participando ativamente de consultas, terapias, atividades domiciliares e escolares.

Vale ressaltar que a resposta à condição do irmão com deficiência irá depender de uma série de fatores, como por exemplo a forma como os pais lidam e reagem frente à deficiência e à rotina por ela imposta; como tem sido a vivência com o irmão; o tipo e grau da deficiência, e o intervalo de idade entre os irmãos.

Desafios emocionais na relação fraternal

Irmãos de pessoas com deficiência vivenciam uma série de sentimentos e emoções acerca das alegrias e conquistas, das dificuldades e desafios; que muitas vezes são misturadas com a preocupação com o presente e futuro do irmão, exigências dos pais, dor, vergonha, raiva e ciúme. Essa mistura de sentimentos é típica de qualquer relação fraternal.

O ajuste emocional frente à tudo isso é que irá resultar na forma como os irmãos se relacionam e isso fica à cargo dos pais. Como eles lidam com os filhos com e sem deficiência, como oferecem atenção e impõem limites em ambos os casos, além de como orientam o filho sem deficiência sobre as necessidades do irmão irão determinar a saúde dessa relação.

A ausência de regulação afetiva pode gerar superproteção, permissividade, sobrecarga emocional e de responsabilidades, gerando hostilidade fraterna como falta de consideração, negligência, desrespeito e até mesmo preconceito.

A falta de informação e conhecimento de todos do ambiente familiar acerca da deficiência pode ser algo muito negativo para todos. É comum nos depararmos com crianças que ao serem questionadas sobre a deficiência do irmão não sabem responder quais são suas dificuldades ou tem respostas restritas ao nome da patologia. Se não conseguirem compreender suas limitações e dificuldades como poderão contribuir em seus desafios e qual será a percepção frente às conquistas?

Isso pode se dar por vários motivos, como pela tentativa dos pais de “proteção” da criança com deficiência; sobrecarga dos pais; falta de tempo para conversar a respeito dessa condição entre família e até mesmo por falta de conhecimento de como explicar a condição ao filho sem deficiência.

Mais uma vez o irmão observará o impacto da deficiência em todo o contexto familiar, e a dimensão e forma desse impacto irão determinar o perfil de relacionamento entre os irmãos. Por isso momentos de diálogo e convívio são importantes para todos.

A importância da intervenção terapêutica

O ambiente terapêutico também oferece informações importantes ao irmão sem deficiência acerca das características do seu irmão e de como eles podem se desenvolver juntos. Ambos tem muito a aprender e a sentir juntos. Mas para que isso aconteça precisam participar um da vida do outro. Precisam estar juntos nas atividades relacionadas aos dois, em momentos no ambiente familiar, social, educacional e terapêutico, por exemplo.

Em nossa prática estimulamos a participação da família durante todo o processo terapêutico, pois acreditamos em uma prestação de serviço de reabilitação baseada no sucesso da tríade equipe-paciente-família.

Assim a participação dos pais, irmãos  e outros membros da família são estimuladas de acordo com as particularidades de cada caso. Entendemos que desta forma a família pode compreender melhor as necessidades e condutas, e o paciente se sentir seguro em ambiente favorável ao seu melhor desenvolvimento.

Destacamos que cada família apresenta uma necessidade e realidade, que devem ser respeitadas e levadas em consideração em qualquer escolha dentro do processo de reabilitação.

Em relação à participação dos irmãos durante o processo terapêutico, eles poderão adquirir conhecimento necessário para saber como lidar melhor com o irmão com deficiência, além de desmistificar uma série de mitos e sanar suas dúvidas. Eles poderão sentir-se úteis além de ter o relacionamento afetivo com o irmão alimentado e fortalecido.

Associado à isso a criança com deficiência obtém ganhos e responde aos estímulos oferecidos na companhia ou até mesmo através da família, que é “natural” e habitual para ela. É uma somatória de fatores que contribuirá para o relacionamento saudável e desenvolvimento de todos.

Como os irmãos podem participar?

Estimulamos essa participação de diversas formas, desde a simples presença no ambiente terapêutico como acompanhante e  sempre destacada “platéia”, que estimula verbalmente ou em silêncio e vibra com cada pequena e grande consquista; até a participação ativa durante as atividades propostas. De maneira lúdica e corretamente orientada eles podem ser potenciais ajudadores dos terapeutas durante as sessões. São importantes o conhecimento e sensibilidade do terapeuta para identificar o perfil e potencial de cada família para ajustar essa participação da maneira mais adequada em cada caso.

Papel de cada integrante

É importante que entendamos o papel de cada integrante da tríade equipe-paciente-família no processo de reabilitação.

De acordo com Ragasson, Almeida, Comparen e  Mischeati & Gomes (2007), os profissionais da saúde tem papel importante na promoção da inter-relação entre educação e saúde, com objetivo de promover maior compreensão de todo o processo por parte dos pacientes e familiares. Para isso é necessário de acordo com Nogueira & Jardim (2007) se considerar as características de cada família.

Segundo Moura e Silva (2005) a presença efetiva da família garante que o processo de reabilitação ganhe sentido por meio do vínculo estabelecido. Os familiares aprendem e o paciente evolui frente aos aspectos emocionais e funcionais envolvidos em tal participação.

O apoio inter-humano compreende um aspecto facilitador da reabilitação, uma vez que o paciente geralmente responde melhor ao processo se houver algum tipo de auxílio, seja da família, amigos ou qualquer pessoa que se faça presente e disposta ajudar (LIBRELON, 2014).

Às famílias deixamos a orientação para que proporcionem aos seus filhos momentos de aprendizado e convívio em comum, pois ser amigo do irmão é bom demais! Saber por que e como ajudar é fundamental.

À nós profissionais fica o papel de conhecer o perfil de cada família com responsabilidade e empatia para que haja uma prestação de serviço humanizada e eficaz para cada caso. Entender o sentido de companheirismo entre todos os envolvidos nesse processo (profissionais, paciente e família) se faz necessário para que o resultado final seja sempre o bem-estar e evolução da pessoa mais importante nesse contexto: o paciente!

Leia: Esta vaga de estacionamento pode ser sua?

Fontes:

http://www.terapiaemdia.com.br/?p=1284

https://www.personare.com.br/cumplicidade-entre-irmaos-m388

https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/vinculo-entre-triade-equipe-familia-cliente.pdf

http://www.psicoexistencial.com.br/processo-de-reabilitacao-dos-pacientes-de-uma-clinica-escola-de-fisioterapia-uma-visao-fenomenologica/

https://escoladainteligencia.com.br/relacionamento-entre-irmaos-como-promover-o-respeito-e-o-companheirismo/