Atuação da Fisioterapia no TEA: quando é necessária?

O autismo traz consigo uma série de repercussões diretas e indiretas sobre o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, e que trazem impactos em sua interação social, comunicação, linguagem, aspectos motores e funcionais.

Sabemos que crianças com TEA apresentam características específicas quanto à sua modulação sensorial e respostas aos estímulos e ao ambiente. Para refletirmos acerca do papel da fisioterapia no acompanhamento de pacientes com TEA devemos pensar em dois grupos distintos: aqueles que possuem apenas diagnóstico de autismo e aqueles que além desse diagnóstico possuem alguma outra comorbidade, de origem neurológica ou genética, por exemplo.

É comum em nossa prática clínica nos depararmos com essas duas situações

Gostaria de falar primeiro sobre os pacientes com diagnóstico apenas de autismo. Sabemos que o grau de comprometimento varia de caso para caso, e esse grupo pode então em seus primeiros meses ou anos de vida apresentar sinais relacionados ao TEA muito sutis. Tais sinais podem estar acompanhados de atraso do desenvolvimento de marcos importantes como sentar, engatinhar e andar. A hipoatividade, hipotonia, ausência de choro ao tomar vacinas ou a marcha na ponta dos pés, são alguns exemplos de características que podem chamar atenção. Para algumas famílias e pediatras a identificação do atraso motor pode ser mais fácil e primeiro realizada, e então esses pacientes serão encaminhados para acompanhamento fisioterapêutico, passando o fisioterapeuta a ser o primeiro profissional de contato da família antes do diagnóstico. Alterações do desenvolvimento neuro-motor, hipotonia, dificuldade na preensão, movimentos corporais desajeitados, ineficiente controle postural e incoordenação motora podem fazer parte do quadro geral de crianças com TEA. (MING et al)

Nesse caso precisamos aliar nosso conhecimento sobre desenvolvimento neuropsicomotor global ao que sabemos sobre TEA, além de saber identificar as principais características desse atraso e seus fatores associados. É importante que saibamos identificar a natureza de cada movimento e da falta dele, como primícias do nosso planejamento terapêutico. Além disso, é primordial que saibamos quando existe necessidade de intervenção de outros profissionais, como terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, neurologistas e psicólogos, por exemplo; à frente dos sinais identificados que componham abrangência de atuação de cada um deles, para que o encaminhamento seja realizado o mais breve possível a fim de que esse paciente receba atendimento adequado de forma precoce. A idéia de intervenção precoce a esse grupo é validada por Cavalcante (2014) que afirma que quanto antes se intervém maiores as chances de a plasticidade cerebral ser estimulada de forma a minimizar os efeitos dos sinais e garantir melhora funcional. Segundo Bosa, 2006 a eficácia do tratamento depende da experiência e conhecimento dos profissionais acerca do autismo, mas principalmente de sua habilidade de trabalhar em equipe e com a família.

Esse grupo geralmente alcançará seus marcos motores e receberão alta da fisioterapia, uma vez que seus atrasos estão relacionados diretamente com seus déficits sensoriais, que provocam dificuldades na práxis e desempenho funcional, o que prejudica seu desempenho, mas não os impedem de alcançar o desenvolvimento motor ideal. Por isso eles continuarão na maior parte dos casos em acompanhamento com os outros profissionais da equipe multidisciplinares responsáveis por intervir diretamente sobre esses componentes. O outro grupo de pacientes são aqueles que além do TEA possuem alguma outra comorbidade, neurológica ou de ordem genética, como síndrome de Downn, paralisia cerebral e síndromes raras, por exemplo.

Nesses casos o fisioterapeuta também pode ser o primeiro profissional a ser procurado, pois, as alterações de tônus muscular e distúrbios do movimento certamente estarão presentes antes que se perceba os sinais do autismo. É comum, por exemplo, crianças com paralisia cerebral que apresentam hipo ou hiper responsividade, assim como recusa ou dificuldade de estabelecer contato visual com pessoas, ou objetos e buscas sensoriais expressas por estereotipias.

Nosso desafio é ainda maior com esse grupo, pois além de compreender e identificar esses sinais e como eles interferem no quadro de cada paciente, precisaremos aprender com cada um, o que precisam receber e de qual forma precisamos oferecer cada estímulo, para que nossa conduta seja efetiva dentro daquilo que almejamos em conjunto com cada família. Para Azevedo e Gusmão, 2016, o profissional que decide lidar com a criança autista deve considerar tudo o que é sabido sobre o processo de desenvolvimento normal e os fatores que otimizam o desenvolvimento, como também tem que considerar o que se sabe sobre os aspectos anormais que interferem no desenvolvimento das crianças autistas. Precisaremos aprender não somente com cada paciente e família, mas com cada equipe multidisciplinar quais estratégias teremos que agregar nas nossas terapias.

É necessário que saibamos identificar a causa de cada “comportamento” e a forma de amenizá-lo concomitantemente à nossa abordagem fisioterapêutica. Muitas vezes será necessário que adotemos algumas medidas prévias à nossa conduta como, por exemplo, oferecer estímulos táteis ou proprioceptivos como forma de “preparo” ou como estratégias associadas aos nossos manuseios e atividades.

Precisaremos aprender não somente com cada paciente e família, mas com cada equipe multidisciplinar quais estratégias teremos que agregar nas nossas terapias. É necessário que saibamos identificar a causa de cada “comportamento” e a forma de amenizá-lo concomitantemente à nossa abordagem fisioterapêutica. Muitas vezes será necessário que adotemos algumas medidas prévias à nossa conduta como, por exemplo, oferecer estímulos táteis ou proprioceptivos como forma de “preparo” ou como estratégias associadas aos nossos manuseios e atividades.

É muito importante que entendamos e façamos com que a família também compreenda que a fisioterapia não trata os sinais do TEA, sendo nossa responsabilidade intervir sobre os aspectos motores do paciente. O que acontece é que quando nossos objetivos estão alinhados e coesos com o restante da equipe multidisciplinar adotamos estratégias que nos permitem trabalhar em nosso campo com uma menor interferência dos sinais, e assim contribuímos com o desenvolvimento global da criança. Estratégias terapêuticas como organização da sala de atendimento, modulação da voz e do estímulo oferecido, estruturação da atividade, intensidade do toque manual, adequação da velocidade do movimento entre muitas outras fazem parte das nossas condutas traçadas em conjunto com a equipe responsável pelo paciente.

A fisioterapia com pacientes com TEA sem dúvidas é e sempre será um trabalho que requer conhecimento, doação e persistência; e que nos ensina a olhar a reabilitação neurofuncional sob a óptica da globalidade, individualidade e interdisciplinaridade.


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Fontes: 

http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-03072016000200005

https://revistas.unipar.br/index.php/saude/article/viewFile/3711/2411

http://www.scielo.br/pdf/prc/v14n2/7855.pdf

http://www.unisalesiano.edu.br/biblioteca/monografias/62218.pdf

http://atualizarevista.com.br/wp-content/uploads/2016/01/A-import%C3%A2ncia-da-fisioterapia-motora-no-acompanhamento-de-crian%C3%A7as-autistas-n-3-v-3.pdf

http://portal.fcjp.edu.br:8080/pdf/008492.pdf

https://interfisio.com.br/perfil-clinico-das-criancas-com-transtorno-do-espectro-autista-tea-acompanhadas-em-um-centro-especializado-na-cidade-de-maceioal/

http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/3350/5/Silvia%20Gusman.pdf

https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0387760407000897

http://www.fasb.edu.br/revista/index.php/higia/article/viewFile/529/481

https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/2737/1/Perfil%20Psicomotor%20Ana%20Paula%20Coelho.pdf

http://www.jped.com.br/conteudo/04-80-S83/port.pdf